Casamento cigano
Pai quer comprar noiva virgem para seu filho quer comprovação da virgindade da futura nora
O casamento entre os ciganos Rom Lovara é decidido numa reunião de homens.
Um dos participantes do conselho dirige-se a outro anunciando o desejo de "comprar" uma esposa para seu filho.
O pai de alguma moça disponível para casamento apresenta sua oferta em ouro ou em dinheiro. O pai do rapaz que fez a proposta não pode recusar a soma pedida. Para evitar qualquer constrangimento, a notícia da decisão da "compra" da noiva circula meses antes na comunidade de sorte que, no dia da reunião, ambos os pais já sabem qual será o preço da transação.
Acertada a quantia, o pai da moça oferece ao "comprador" uma garrafa de uísque rodeada de uma corrente de ouro. Depois chama a filha para que ela dance ao futuro sogro uma coreografia chamada "Romanês".
A data da cerimônia é acertada. Ambas as famílias alugam um salão para os três mil convidados em média que comparecem a esse evento. Quem dirige a cerimônia do casamento é o ancião da tribo. Ele recita orações quando corta delicadamente os pulsos dos noivos com uma lâmina. Depois junta-os para consumar a "união de sangue". Os convidados gritam "Brau!" (Viva!). Então o pai da noiva diz em língua romani essa declaração ao pai do rapaz:
- Sardento murrachá en surisardento, sararakêsa gadiá avelato. Gardiá sararakessa avela tu borí. Nassunakai nai galbi kaidalto umassi morrorat" ( Eu te dei a minha filha em casamento, mas um dia posso pegá-la de novo. Se cuidares dela terás nora. Não é dinheiro e nem ouro que te dou, mas sim um sangue meu).
Os jurados aplaudem no momento em que o pai do rapaz beija a noiva do filho. O ancião da cerimônia fala nesse momento:
- Messolaráu kessim pekakoabiaú me sai putráu o abiau, sarmé likau ke pukinel laxiar. ( Eu testemunho que estou presente neste casamento e mais tarde posso ver o final dele. Como ele está vendo, diz o ancião olhando para o pai da noiva, a filha está paga).
O idoso beija os cônjuges. Os convidados batem palmas e gritam novamente Brau! Eles já estão casados. A orquestra começa a tocar várias "kaiaskê romanês (músicas de entretenimento). Começa a grande festa de três dias e três noites.
Uma das músicas do repertório é "Nonô nanê gaji" (Não queremos mulheres não ciganas). A letra é assim: Nonô nanê gaji // Barô lajau kan keresa // Barô manguin kanpukinasa // Galbenta mesuriuto // Chatraça kancarasa // (Tradução: Não queremos mulheres não ciganas // É uma vergonha para nosso povo // Vai sair uma fortuna para nós // Com ouro vou te casar // Com o casamento que vai ser feito).
Outra música é um sucesso internacional. Trata-se de "Tchumiden". A letra é assim: "Tchumiden // Tchumiden mabut // Sarsas katchiariat e primero data // Tchumiden // Tchumiden mabut // Sorsas me sarasadento ek data//. O leitor não conhece essa música? É o famoso tango "Besame Mucho" (Besame // Besame Mucho // Como fuera esta noche la última vez // Besame// Besame Mucho// Tengo miedo de perderte otra vez).
No terceiro dia após a cerimônia de casamento é dada uma trégua na grande festa: os convidados esperam o resultado do ritual do desvirginamento. Os recém-casados manterão relações sexuais diante de uma comissão de parentes.
A cerimônia tem versões diferentes conforme as tribos. Há comunidades ciganas em que o desvirginamento é feito pela própria tia. A mulher introduz o dedo na vagina da sobrinha com o objetivo de tentar romper o hímen e provocar sangramento. Passa-se um pano na genitália para que se manche de sangue, uma prova da pureza da moça que é dada ao marido.
Os recém-casados são despidos. Quando o rapaz for inexperiente (muitas vezes o noivo é um jovenzinho que nem tem 14 anos de idade), os homens da comissão lhe ensinam "como fazer". Durante o ato sexual o casal é assistido pelos parentes que nem equipe de gravação de filme pornô. As mulheres, quando notam que a moça não quer ceder, seguram-na e mantêm as pernas dela abertas enquanto uma cigana segura o órgão sexual do rapaz, direcionando-o à vagina da jovem.
Consumada a penetração, passa-se um pano branco para recolher o sangue. Se não houver sangramento ou qualquer prova concreta de que a moça é virgem, o noivo pode decidir se a aceita ou não. A frase de recusa é:
- Ertinangê ke me tigenauas godiabuki. (Senhores, desculpem-me. Nem eu sabia o que estava acontecendo).
Nesse caso o casamento é desfeito e se instala um clima de guerra entre as famílias: a moça é punida com uma violenta surra do pai que, nessa história toda, tem de devolver o ouro pago pelo casamento.
Se o rapaz quer a noiva apesar dela não ser virgem, ele comunica à comissão:
- "Apô kanai voi cheibari melaula gadiá sarçi" (Já que ela não foi "moça", eu aceito do jeito que ela é).
Nesse caso, o pai está impedido de dar uma surra na filha, mas tem de devolver o ouro ou o dinheiro recebido pelo casamento do mesmo jeito. Em todo caso, fica com a reputação manchada. Afinal, para os ciganos, a virgindade é o símbolo da honra da família.